terça-feira, 15 de junho de 2010

Fernando Pessoa já sabia da verdade

metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo.
Sei lá o que penso eu do mundo!
Se eu adocesse pensaria nisso...

O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério. O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos, começa a nao saber o que e o sol e a pensar uitas cousas cheias de calor. Mas abre os olhos e vê o sol, já não pode pensar em mais nada porque a luz do sol vale mais do que os pensamentos. De todos os filósofos e de todos os poetas a luz do sol não sabe o que faz e por isso não erra e é comum e boa.

Sentido íntimo das cousas... o único sentido íntimo das cousas é elas não terem sentido nenhum.
Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, sem dúvida viria falar comigo e entraria pela miha porta dentro dizendo-me: Aqui estou!
Mas Deus é as flores e as árvores. Os montes e sol e o luar.
Então acredito nele. Acredito nele a toda hora e a minha vida é toda uma orção e uma missa, é uma comunhão com os olhos e ouvidos.

Mas Deus é as arvores e as flores e os montes e o luar e o sol, para que chamo eu Deus?
Chamo-lhes flores e árvores e montes e sol e luar.
Porque se ele se fez, para eu ver, sol e luar e flores e árvores e montes
Se ele me aparece como sendo árvores e montes e luar e flores
É que ele quer que eu o conheça como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe. (Que mais seu eu de Deus que eus de si próprio?)
Obedeço-lhe a viver espontaneamente. Como quem abre os olhos e vê. E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes. E penso-o vendo e ouvindo. E ando com ele a toda a hora.

Pensar em Deus é desobedecer a Deus, porque Deus quis que o não conhecêssemos, por isso se não mostrou...

Alberto Caeiro
(Fernando Pessoa)

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