quinta-feira, 1 de julho de 2010

A carroça


Certa manhã, meu pai muito sabido, convidou-me a dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer. Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio me perguntou:
- Além do cantar dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?
Apurei os ouvidos alguns segundos e respondi:
- Estou ouvindo o barulho da carroça.
- Isso mesmo- disse meu pai – é uma carroça vazia.
Perguntei ao meu pai:
- Como pode saber que a carroça está vazia, se ainda não a vimos?
- Ora – respondeu meu pai- é muito fácil saber que uma carroça está vazia por causa do barulho. Quanto mais vazia a carroça, maior o barulho que faz.
Tornei-me adulto e até hoje, quando vejo uma pessoa falando demais, gritando (no sentido de intimidar), tratando o próximo com grossura inoportuna, prepotente, interrompendo conversa de todo mundo e querendo demonstrar-se senhor da razão e da verdade absoluta, tenho a impressão de ouvir a voz do meu pai dizendo:
“Quanto mais vazia a carroça, mais barulho ela faz...”

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